domingo, 17 de janeiro de 2021

Está na hora de repararmos uma injustiça devolvendo "Zé Lopes" para a Prefeitura

De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 37, a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá dentre outros princípios, o da impessoalidade. Esse princípio além de vedar a promoção pessoal de agentes públicos e a existência de privilégios concedidos a pessoas, sem fundamento legal, também, por que não, deveria vedar a denominação de prédios públicos com o nome familiares que não possuem quaisquer contribuições à municipalidade ou que, por sua atuação, não guardam quaisquer nexo com a finalidade do bem público.

Em 21 de de dezembro de 2015 foi sancionada a Lei Municipal nº 1.289/2015, que determinou a denominação de "Palácio José Lopes de Albuquerque" o prédio onde funciona a sede da Prefeitura Municipal de Ilha de Itamaracá, que está situada a Av. João Pessoa Guerra, nº 37, Pilar. Para quem não conheceu José Lopes de Albuquerque, o popular Zé Lopes nasceu em  31 de Outubro de 1921, é autor do livro "Histórias e Segredos de uma Ilha" (1989) e prestou relevantes serviços à população como Presidente da Colônia de Pescadores da Ilha de Itamaracá, Vereador do Município de Igarassu, quando a Ilha de Itamaracá era distrito daquele município, e Prefeito da Ilha de Itamaracá (1973 a 1977). 

De fato, antes de Zé Lopes exerceram o mandato de Prefeito da Ilha de Itamaracá o Sr. Gilson Ferreira de Araújo, indicado para um mandato tampão, Dr. Nelson Andrade de Oliveira (1962- 1966), o Sr. Evilácio da Cunha Amaral (1966-1970) e o Sr.  José da Câmara e Silva (1970-1973).  Observando esta lista, é cabível e lógico que o prédio sede da Prefeitura da Ilha de Itamaracá recebesse o nome de um desses que foram os primeiros chefes do poder executivo municipal. Entretanto, em 2018, foi sancionada pelo então prefeito, Mosar de Melo Barbosa Filho, a Lei Municipal nº 1.324, de 03 de Janeiro de 2018, que retirou a justa homenagem feita ao saudoso José Lopes de Albuquerque para denominar de Edifício Mosar de Melo Barbosa o prédio sede da Prefeitura. 

Sem desconsiderar os méritos pessoais de quem quer que seja, essa alteração, além de demonstrar desconhecimento dos fatos históricos da nossa cidade, é um desrespeito à memória daqueles que possuem grande contribuição para o município, em especial, para a cultura da Ilha de Itamaracá.  Assim, seria de grande contribuição do Poder Legislativo, em memória do Sr. Gilson Ferreira de Araújo que hoje dá nome a sede da Câmara de Vereadores, que essa injustiça fosse reparada com a imediata revogação da Lei Municipal nº 1.324/2018, a fim de que seja restaurada a justa homenagem ao Sr. José Lopes de Albuquerque, como forma de devolver o seu nome à fachada do prédio sede da Prefeitura da Ilha de Itamaracá.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

77 anos de uma vida dedicada à ciranda e à cultura da Ilha de Itamaracá

 


O dia de hoje (12/01) era para ser celebrado com todas as honras e protocolos dignos de uma data magna, pois hoje não é apenas o dia do aniversário de Lia de Itamaracá, mas também a data de celebração de uma tradição cultural que formou a identidade local e que projetou a Ilha de Itamaracá para o mundo, após anos de esquecimento. O que seria de Itamaracá sem a a força de sua cultura? O que seria da cultura da Ilha sem Lia de Itamaracá? De fato, tanto a Ilha quanto a cultura continuariam existindo, mas, com toda certeza, não seriam os mesmos. 

Com uma vida dedicada à ciranda e a cultura do município, Lia de Itamaracá fez e faz história. Sua contribuição para a cultura, não só da Ilha de Itamaracá, levou a ser reconhecida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2019, como doutora Honoris Causa. Essa foi a prova de que o reconhecimento vindo de fora tem sido imensuravelmente superior ao que Lia de Itamaracá deveria receber do seu município amado. 

Como forma de reduzir a dívida histórica que o município tem com Lia, em 2012, por iniciativa de Edvaldo Júnior, então Secretário Executivo de Cultura, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.213, de 20 de Março de 2012, que institui o Dia Municipal da Ciranda, em homenagem a data natalícia de Lia de Itamaracá. Também por iniciativa de Edvaldo Júnior foram aprovados, por meio da Lei Municipal nº 1.223, de 11 de Dezembro de 2012, a criação do Festival de Ciranda e Coco, a abertura do Espaço Cultural Estrela de Lia, o registro das expressões culturais da ciranda, do coco e do samba e a implantação da Casa da Ciranda, do Coco e das Bandeiras. Infelizmente, 8 anos após a aprovação da Lei nenhum gestor tirou essas metas do papel.

Fazer cultura no Brasil é difícil, mas na Ilha de Itamaracá essa dificuldade se eleva geometricamente. Mas quem mais do que Lia não sabe disso? Uma mulher preta, pobre e de baixa escolarização, que conseguiu romper todas as barreiras que lhe foram impostas e alcançou seu lugar de destaque na história. Sem dúvida é um exemplo. Um modelo de persistência e de resiliência. Que muitos anos sejam dados a esta mulher que é um dos mais valorosos ícones da cultura da Ilha de Itamaracá.